Só duas coisas são certas na vida, "morte e impostos". Estamos nos
últimos dias para você declarar seu IR. Imagino que esteja super feliz
por ter essa chance de cumprir sua cidadania. Risadas? O Estado brasileiro se arma até os dentes em tecnologias de arrecadação,
mas continua a não entregar serviços. Avançamos pouco desde as
capitanias hereditárias.
O Bolsa Família (coronelismo de esquerda) é um pouquinho melhor do que o
prato de farinha que o "coroné" dava no Nordeste no dia da eleição.
Mas, se o governo é um leão em TI, um sócio sanguessuga, e nada nos dá
em troca, o problema aqui é antes de tudo uma mentalidade miserável
tanto do Estado brasileiro quanto duma cultura jeca que diz não gostar
de dinheiro e abominar o lucro.
Com a advento do terrorismo de quintal em Boston, muita gente volta a
ladainha de que os americanos são caipiras paranoicos. Errado!
Os americanos inventaram o país mais rico do mundo, no espaço de tempo
mais curto da história, para uma população gigantesca e na maior
liberdade política conhecida. E isso tudo porque é rico. Isso mesmo: o
que faz os EUA não são os "obaminhas", mas sim a cultura de trabalho e
empreendedorismo da América profunda, dos americanos pequenos e
invisíveis.
Nos EUA, "justiça social" é uma oferta gigantesca de empregos. Aqui nos
afogamos num misto de inhaca coronelista de esquerda, travestida de
menina virgem de dez anos, e ódio "fake" ao lucro e ao dinheiro.
Lamento que a guerrilha no Brasil, no tempo da ditadura, não tenha saído
vitoriosa. Assim, eles teriam revelado o que de fato queriam, fazer do
Brasil uma (outra) ditadura de pobres.
Agora estaríamos livres da palhaçada contínua que ainda reina entre nós:
a esquerda se dizendo vítima e fingindo que é democrática. Teríamos
falido, como todo país comunista faliu, eles teriam matado milhares de
pessoas, como todo país comunista matou, e agora, como nos países do
Leste Europeu, ninguém ficaria brincando de ser de esquerda.
E a direita? No Brasil não há a direita que interessa, a liberal de
mercado, que defende que as pessoas devem ser responsáveis pelo que
fazem. Aquela dos "americanos pequenos e invisíveis".
Engana-se quem acredita que defender a sociedade de mercado seja defender grandes grupos capitalistas.
O "grande capital" nada tem a ver com a ideia de sociedade de mercado de
Adam Smith, pois este "grande capital" convive muito bem com regimes
autoritários e, pasme você, adora países sem sociedade de mercado, basta
ver como qualquer grande banco vive bem com nossa inhaca coronelista de
esquerda. O "grande capital" odeia competição e meritocracia.
Não, o que falta entre nós é uma visão de mundo que não seja pautada
pelo culto da incapacidade das pessoas cuidarem de si mesmas. A
sociedade de mercado é uma sociedade de pequenos e médios empresários e
profissionais liberais que lutam corajosamente para dar emprego e pagar
impostos imorais.
O governo brasileiro persegue esta classe de empresários e profissionais
liberais a pauladas, cobrindo-os de obrigações tributárias impagáveis
para que sejam obrigados a corromper o próprio governo. Um fascismo
fiscal.
Por exemplo: por que alguém deve pagar 40% de multa do FGTS quando
demite um funcionário? Qual a infração que mereceria esta multa de 40%?
Eu digo qual: para a mentalidade jeca brasileira, dar emprego é crime,
empregador é bandido que deve ser punido. Eis um exemplo de pauladas.
No Brasil só bobo e quem não tem jeito dá emprego. Uma saída é exigir
pessoa jurídica de todo mundo e enterrar todo mundo em centenas de
tributos. Eis o fascismo fiscal.
Quero ver os bonzinhos, bonitinhos e melosos continuarem bonzinhos,
bonitinhos e melosos quando tiverem que pagar a multa de 40% do FGTS
(depois de 10 anos) quando quiserem demitir uma empregada que maltrata
seu filho.
Pequenos e médios empresários e profissionais liberais é que fundam a
riqueza de um país e enquanto os caçarmos, inclusive considerando-os
bandidos, o Brasil não sairá da miséria. Adam Smith, e não Marx, deveria
estar em nossas cartilhas.
Luiz Felipe Pondé,
pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP,
pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor
da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo,
religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles,
"Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa). Escreve às segundas na versão
impressa de "Ilustrada".
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Fonte: Folha de São Paulo
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