O Brasil não voltará a crescer entre 7% e 8% ao ano, diz o economista
Dani Rodrik, professor de política econômica internacional da
Universidade Harvard e um dos maiores especialistas em economia do
desenvolvimento.
Segundo Rodrik, o ambiente global benéfico -alto crescimento da China,
elevados preços das commodities, países avançados em expansão- não vai
se repetir. "É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4% no
Brasil", disse à Folha Rodrik, que participou ontem de seminário da revista "Carta Capital".
Segundo ele, a fase de alto crescimento no mundo acabou. O Brasil, com
instituições democráticas sólidas, é resiliente. "Mas o país não deve
ser excessivamente ambicioso, precisa ser cuidadoso, fiscalmente seguro,
para lidar com os choques externos que provavelmente virão."
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Folha - O Brasil cresceu 0,9% em 2012 e há uma percepção de que o
modelo de crescimento baseado em consumo se esgotou. O que o sr. acha?
Dani Rodrik - Dois anos atrás, todo mundo dizia que o Brasil estava
vivendo um novo milagre econômico. Eu achava que era um enorme exagero.
Agora, as pessoas estão tirando conclusões apressadas em cima de apenas
um ano de crescimento.
O Brasil não vai mais crescer 7%, como no milagre econômico antes da
crise da dívida ou mesmo em 2010 (7,5%). É realista esperar uma taxa de
crescimento de 3% a 4%. Se o contexto global ajudar, 5% é uma taxa
razoável.
O sr diz que, a partir de agora, alto crescimento no mundo será exceção. Como se situa o Brasil nesse cenário?
As condições que permitiram crescimento de 7% a 8% não vão se repetir.
Antes, tínhamos os estágios iniciais da industrialização -ao tirar mão
de obra da zona rural ou do setor informal e levar para as indústrias,
tínhamos ganhos de 400% na produtividade. Agora, não teremos grandes
ganhos sem mais investimentos em educação e tecnologia. Com as mudanças
tecnológicas, a indústria é muito mais intensiva em capital e não
absorve tanta mão de obra. E o Brasil, na realidade, já atingiu o pico
de industrialização e está agora se desindustrializando. Mas isso é
verdade para a maioria dos países. É inevitável. A discussão agora é a
velocidade da desindustrialização, se está mais rápida do que deveria. A
indústria não mais será o motor do crescimento. Serviços e outras áreas
irão gerar ganhos de produtividade.
O sr. ficou decepcionado com a decisão dos Brics (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul) de criarem um banco de desenvolvimento...
Essa é uma noção dos anos 50, de que é preciso ter financiamento de
infraestrutura. Frequentemente, o que emperra o desenvolvimento não é a
falta de financiamento, mas sim instituições frágeis, excesso de
regulação, falta de política industrial e moedas sobrevalorizadas.
Financiamento é apenas um dos fatores. Não me parece o foco apropriado
para os Brics. Faltam ideias novas de como consertar a globalização e
criar uma nova relação entre emergentes e ricos.
O sr. diz que os Brics precisam parar de se comportar como
"suplicantes". Qual é a mensagem que o Brasil deveria passar nos foros
mundiais?
Gostaria de ver o Brasil abordar o sistema internacional não como um
país em desenvolvimento dizendo que é pobre e precisa de ajuda. Em vez
disso, o Brasil precisa se posicionar como formador de políticas, que
também tem grandes responsabilidades. Em áreas como mudança climática,
por exemplo, não haverá redução de emissões se os emergentes não
assumirem responsabilidade.
O que o sr. espera de Roberto Azevêdo à frente da Organização Mundial do Comércio?
A agenda da OMC precisa mudar. A Rodada Doha morreu e as pessoas
deveriam simplesmente declarar isso. O real desafio para a OMC é
estabelecer uma nova narrativa, que não se restrinja a: "você reduz suas
tarifas e em troca nós abrimos nossos mercados". No momento, o maior
problema não é a falta de abertura comercial.
E o Brasil precisa mudar sua atitude. O Brasil ocasionalmente precisa
proteger sua indústria, mas tem de entender que os países ricos passam
por uma situação muito difícil e também precisam proteger a sua
indústria. O Brasil, apesar de todas as elevações de tarifas recentes,
não pode ser chamado de economia fechada. Aliás, acho que a atual
estrutura de tarifas no Brasil é até positiva.
Por quê?
Porque, na margem, está dando uma proteção temporária para algumas
indústrias que estão sendo dizimadas pela valorização da moeda. Vivemos
no mundo possível, não no mundo doutrinário.
Qual é a importância de ter um brasileiro liderando a OMC?
O Brasil pode levar para a OMC uma abordagem pragmática, não
doutrinária, que é uma evolução da proposta radical de livre mercado -é
assim a política econômica do Brasil atualmente. Então ter um brasileiro
no comando da OMC é muito positivo.
O sr. classifica os países de mercantilistas ou liberais. Em que faixa se situa o Brasil?
O Brasil é uma boa mistura -usa regras liberais em seu sistema
financeiro, políticas monetária e cambial, mas é mais mercantilista no
que se refere às políticas industriais, proteção por tarifas, regras de
conteúdo local e uso do BNDES. Talvez precise de menos liberalismo no
fronte macroeconômico e mais no fronte comercial.
Fonte: Folha de São Paulo
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